Não gosto do escuro Ele me faz sentir coisas que não aparecem na luz Sensações que doem tanto A ponto de amargar o estômago Prefiro esconder tudo O que é fácil na sombra gerada pela claridade Como arrastar a poeira para debaixo do tapete Até que um dia não dê mais E eu exploda, dentro de mim mesma Condenada à tristeza de ser quem sou Fadada ao fracasso e à fadiga Que é viver quando se nasce da cor "errada" Quando não se vem de uma família abastada O esforço não é suficiente para crescer na vida O salário não é suficiente para suprir ao básico E a necessidade vira a causa de uma crise de ansiedade Prefiro ser apática Do que sentir o medo de não conseguir ser O que meus pais tanto sonharam E não conseguir devolver nenhum sacrifício Cedo aprendi a ligar o automático Forjar o sorriso, dizer que estou bem Do que adianta se lamentar Se ninguém é capaz de resolver o real problema Da estrutura criada para beneficiar poucos Somente os brancos Os bem nascidos Os da cor "certa" Mesmo as coisas boas Não gosto de sentir Porque são passageiras E se vão num piscar de olhos Pode parecer estranho Uma poesia que defenda a indiferença Mas, decido versar sobre o que está dentro de mim Em vez de performar aparências