Publicado em Afropoéticas

Poema Apático

Não gosto do escuro
Ele me faz sentir coisas que não aparecem na luz
Sensações que doem tanto
A ponto de amargar o estômago 

Prefiro esconder tudo
O que é fácil na sombra gerada pela claridade 
Como arrastar a poeira para debaixo do tapete
Até que um dia não dê mais 

E eu exploda, dentro de mim mesma
Condenada à tristeza de ser quem sou
Fadada ao fracasso e à fadiga
Que é viver quando se nasce da cor "errada" 

Quando não se vem de uma família abastada
O esforço não é suficiente para crescer na vida
O salário não é suficiente para suprir ao básico
E a necessidade vira a causa de uma crise de ansiedade

Prefiro ser apática
Do que sentir o medo de não conseguir ser 
O que meus pais tanto sonharam
E não conseguir devolver nenhum sacrifício
Cedo aprendi a ligar o automático 

Forjar o sorriso, dizer que estou bem 
Do que adianta se lamentar 
Se ninguém é capaz de resolver o real problema
Da estrutura criada para beneficiar poucos 

Somente os brancos 
Os bem nascidos
Os da cor "certa" 

Mesmo as coisas boas
Não gosto de sentir
Porque são passageiras
E se vão num piscar de olhos 

Pode parecer estranho
Uma poesia que defenda a indiferença
Mas, decido versar sobre o que está dentro de mim 
Em vez de performar aparências 

Autor:

Jornalista formada pela Universidade Federal do Ceará. Fundadora e criadora de conteúdo do Quilombo Geek, atua como editora e produtora de conteúdo do portal. Também é repórter do Vida&Arte - O Povo.

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